terça-feira, 18 de maio de 2010

Os meios de comunicação e a sociedade

A sociedade contemporânea tem sofrido os grandes efeitos que a influência dos meios de comunicação tem exercido sobre ela, onde as mudanças tecnológicas da comunicação aceleram a dinâmica cultural no contexto da globalização, criando hábitos e relações entre os indivíduos e grupos. A presença da mídia inclusive tem desafiado até mesmo a influência da escola no pensar e agir das pessoas. E nesse contexto podemos observar a influência negativa que tais meios podem ter na forma como se educam as consciências de pessoas e grupos desta mesma sociedade através das manifestações religiosas.
Sabemos que, o processo de comunicação é básico para a interação social, visto que, sem ele não haveria troca de ideias, informações, saberes, e normas que regulam a vida coletiva. Porém, os meios de comunicação tem influenciado a sociedade de tal maneira a ponto de definirem os critério de verdade e realidade para muitas pessoas em todo o mundo.
Os meios de comunicação influenciam a vida de todos nós na sua função de transmitir informações e entretenimento para a população através da televisão, cinema , rádio e informática; e que colaboram para a difusão em larga escala da cultura no mundo contemporâneo. Com isso a escola também tem sofrido os efeitos provocados pela mídia (que a cada dia ganha mais espaço) onde tem sido considerada apenas como uma mera reprodutora, já que outrora era vista como principal fonte de reprodução de ideias e valores de uma sociedade em decorrência de sua função formadora.
Levando em consideração todo esse contexto, é fácil observar a influência negativa que tais meios podem ter na forma como se educam as consciências de pessoas e grupos na sociedade através das manifestações religiosas. Sabendo ainda que a religião pode ser entendida como uma forma de manipulação e exploração da espiritualidade, que têm tido cada vez mais apelo mediático em nosso país, trás à tona distorções que criam conflitos, desequilíbrios e ajudam a manter desigualdades entre os indivíduos.
O Brasil mesmo sendo um país que detem uma vasta diversidade de religiões, o que podemos observar é o destaque dado ao catolicismo, através dos eventos (grandes festas populares – missas, procissões e etc.) que são veiculados pelos meios de comunicação como notícias e cerimônias onde se mostra a fé e a devoção de muitos brasileiros. Além disso, há uma intensa disputa entre determinados segmentos religiosos na televisão, rádio entre outros, em busca de mais “fiéis”, criando na grande maioria pensamentos que remetem à religiosidade tal como é destacada por tais meios. Veiculando-se também um grande comércio de produtos em geral, afrontas, escândalos, exploração da devoção de muitos e distorção de conceitos que as pessoas tem sobre determinadas religiões sendo estes positivos ou negativos. Todas essas influências acarretam conseqüências negativas, ao passo que, as manifestações religiosas são usadas como forma de manipular os pensamentos, hábitos e atitudes da população.
Portanto, chegamos a seguinte conclusão, o Brasil possui uma indústria cultural que a partir do entretenimento é apenas uma fonte de exploração, que não tem por fim, difundir uma cultura para a melhoria da qualidade da formação da população. Em nome de interesses econômicos, políticos e religiosos da elite, a função cultural-educativa dos meios de comunicação coexistem com a atitude ideológica de “fazer a cabeça” das pessoas.

A Educação Infantil

Trabalhar com a Educação Infantil não significa meramente brincar e atender as atividades das crianças. É muito mais do que isso. É cuidar/educar, ou seja, preocupar-se com o desenvolvimento global do aluno em todos os aspectos, onde a necessidade é trabalhar de forma que a criança através das práticas cotidianas de interagir, aprender, sentir e perceber possa aprimorar tanto as aquisições cognitivas quanto as interações e experiências individuais e coletivas infantis. Para se trabalhar com esta modalidade de Educação, assim como nas demais, é preciso que o educador/professor repense as suas práticas, refaça seu planejamento prévio para assim ser capaz de fazer uma intervenção pedagógica, ética e produtiva. Que tenha um olhar sensível ao que se refere à subjetividade da criança, pois ela tem valores construídos ao longo da sua história, em interação familiar e social, que precisa ser conhecido, legitimado e respeitado. Esta sensibilidade trará a clareza de que a criança precisa, para seu desenvolvimento, de interlocutores sensíveis e firmes, que lhe oriente, dê amor e que lhe proteja sem incapacitá-la; e o educador é um desses interlocutores.
Para lecionar nesta etapa ficará clara ao professor a necessidade da rotina na vida das crianças, visto que, é através dela que as crianças se localizam no tempo e no espaço. Para tanto é preciso formular uma rotina significativa, construída na observação do educador a partir da leitura do ritmo das crianças e do grupo, onde nada acontece por acaso, que cada atividade dê origem a outras atividades ampliando e aprofundando o trabalho. Algumas atividades de rotina estão muito presentes nas instituições, principalmente naquelas que atendem crianças muito pequenas (0 a 3 anos) ou que atendem crianças em período integral. Várias delas estão relacionadas ao bem estar da criança, que se não forem atendidas dificilmente se conseguirá dar continuidade a outras atividades educativas. E Educar faz parte da rotina.
No que se refere a ‘Educar, ’ nesta modalidade significa, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis. Um bom exemplo disto é a atividade de desenho, aonde a criança vai ‘lendo’ e ‘escrevendo’ o seu cotidiano. Sendo este um registro de que ela vive, pensa, tudo que lhe é significativo é expresso através do desenho. Por isso o ato de desenhar é um ato de “escrever” seus pensamentos sobre a realidade. E é através desta releitura permanente da realidade, que a criança se apropria do seu fazer, do seu processo de conhecimento.
Contudo, sendo o educador/professor um ser reflexivo de sua prática pedagógica, terá consciência de que o processo de aprendizagem de seus alunos se dará através do auxilio de sua intervenção, sua direção. É a intervenção que possibilita a avaliação. E não existe processo sem avaliação.E a avaliação é a apropriação do processo da criança, por ela mesma, portanto, o educador/professor precisa estar vivendo o mesmo processo.
Por fim, conclui-se que o educador da Educação Infantil será aquele que terá o papel de conversar com seus alunos, lhes dizer sim, sempre que possível e não, quando necessário. Portanto, ultrapassará a barreira do simplesmente cuidar (o que outrora norteou a Educação Infantil), abrangendo a dimensão pedagógica do trabalho que envolve esta etapa, reconhecendo os aspectos do desenvolvimento integral que contempla o emocional, físico, psicomotor, social, psicológico e cognitivo.

A literatura infanto-juvenil

Ao refletirmos sobre a tradição ocidental relacionada à Literatura infanto-juvenil, percebemos que a criança era vista como um adulto em miniatura, não havia ideia de infância. Contudo, com o movimento do Iluminismo, no século XIX, trazendo a valorização do pensamento fundamentado na razão, a criança passa a ser vista sob uma nova ótica, passando a ter um lugar no contexto da cultura familiar. Além disso, trouxe a descoberta da criança como um ser diferente do adulto, com isso, ela passa a ter suas necessidades levadas em conta para a sua formação, inclusive a leitura.
Com a ascensão da burguesia como grupo dominante, passaram por consumirem cultura literária, e dos momentos em que as crianças compartilhavam leituras com os adultos surge à preferência, por parte delas, pelas histórias ricas em fantasias e aventuras (os primeiros textos a serem chamados Literatura infanto-juvenil, na verdade eram escritos para adultos). Mesmo estas narrativas não sendo escritas com o objetivo de fidelizar este público, acabaram sendo “adotadas” por eles. Surgiu, então, a preocupação de se criar histórias que possuíssem um enredo de fácil compreensão pelas crianças, daí os contos orais sofreram alterações até serem incorporados a Literatura infanto-juvenil. As narrativas que deram origem a esse gênero possuem uma simbologia que é utilizada até os dias de hoje.
Entretanto, a literatura voltada para jovens e crianças, era e ainda é considerada por muitos como um gênero menor (uma sub-literatura), ligado a brincadeiras ou que se destina apenas para o aprendizado. É uma concepção errônea , o que difere a Literatura infanto-juvenil de outras formas de literatura são as lições de aprendizado contidas nela.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Jean Piaget - O biólogo que colocou a aprendizagem no microscópio

Jean Piaget - O biólogo que colocou a aprendizagem no microscópio

O cientista suíço revolucionou o modo de encarar a educação de crianças ao mostrar que elas não pensam como os adultos e constroem o próprio aprendizado

Márcio Ferrari (novaescola@atleitor.com.br)

Foto: Camera Press
Foto: Camera Press

Jean Piaget (1896-1980) foi o nome mais influente no campo da educação durante a segunda metade do século 20, a ponto de quase se tornar sinônimo de pedagogia. Não existe, entretanto, um método Piaget, como ele próprio gostava de frisar. Ele nunca atuou como pedagogo. Antes de mais nada, Piaget foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança.

Do estudo das concepções infantis de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade, Piaget criou um campo de investigação que denominou epistemologia genética - isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança. Segundo ele, o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida.

"A grande contribuição de Piaget foi estudar o raciocínio lógico-matemático, que é fundamental na escola mas não pode ser ensinado, dependendo de uma estrutura de conhecimento da criança", diz Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

As descobertas de Piaget tiveram grande impacto na pedagogia, mas, de certa forma, demonstraram que a transmissão de conhecimentos é uma possibilidade limitada. Por um lado, não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de absorver. Por outro, mesmo tendo essas condições, não vai se interessar a não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos.

Isso porque, para o cientista suíço, o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz - um mecanismo que outros pensadores antes dele já haviam intuído, mas que ele submeteu à comprovação na prática. Vem de Piaget a idéia de que o aprendizado é construído pelo aluno e é sua teoria que inaugura a corrente construtivista.

Educar, para Piaget, é "provocar a atividade" - isto é, estimular a procura do conhecimento. "O professor não deve pensar no que a criança é, mas no que ela pode se tornar", diz Lino de Macedo.

Assimilação e acomodação

Com Piaget, ficou claro que as crianças não raciocinam como os adultos e apenas gradualmente se inserem nas regras, valores e símbolos da maturidade psicológica. Essa inserção se dá mediante dois mecanismos: assimilação e acomodação.

O primeiro consiste em incorporar objetos do mundo exterior a esquemas mentais preexistentes. Por exemplo: a criança que tem a ideia mental de uma ave como animal voador, com penas e asas, ao observar um avestruz vai tentar assimilá-lo a um esquema que não corresponde totalmente ao conhecido. Já a acomodação se refere a modificações dos sistemas de assimilação por influência do mundo externo. Assim, depois de aprender que um avestruz não voa, a criança vai adaptar seu conceito "geral" de ave para incluir as que não voam.

Estágios de desenvolvimento

Um conceito essencial da epistemologia genética é o egocentrismo, que explica o caráter mágico e pré-lógico do raciocínio infantil. A maturação do pensamento rumo ao domínio da lógica consiste num abandono gradual do egocentrismo. Com isso se adquire a noção de responsabilidade individual, indispensável para a autonomia moral da criança.

Segundo Piaget, há quatro estágios básicos do desenvolvimento cognitivo. O primeiro é o estágio sensório-motor, que vai até os 2 anos. Nessa fase, as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas. É um período anterior à linguagem, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo e dos objetos a sua volta.

O estágio pré-operacional vai dos 2 aos 7 anos e se caracteriza pelo surgimento da capacidade de dominar a linguagem e a representação do mundo por meio de símbolos. A criança continua egocêntrica e ainda não é capaz, moralmente, de se colocar no lugar de outra pessoa.

O estágio das operações concretas, dos 7 aos 11 ou 12 anos, tem como marca a aquisição da noção de reversibilidade das ações. Surge a lógica nos processos mentais e a
habilidade de discriminar os objetos por similaridades e diferenças. A criança já pode dominar conceitos de tempo e número.

Por volta dos 12 anos começa o estágio das operações formais. Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita à experimentação mental. Isso implica, entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses.

Para pensar

Os críticos de Piaget costumam dizer que ele deu importância excessiva aos processos individuais e internos de aquisição do aprendizado. Os que afirmam isso em geral contrapõem a obra piagetiana à do pensador bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934). Para ele, como para Piaget, o aprendizado se dá por interação entre estruturas internas e contextos externos. A diferença é que, segundo Vygotsky, esse aprendizado depende fundamentalmente da influência ativa do meio social, que Piaget tendia a considerar apenas uma "interferência" na construção do conhecimento. "É preciso lembrar que Piaget queria abordar o conhecimento do ponto de vista de qualquer criança", diz Lino de Macedo em defesa do cientista suíço. Pela sua experiência em sala de aula, que peso o meio social tem nos processos propriamente cognitivos das crianças? Como você pode influir nisso?

Ajudando o desenvolvimento do aluno

Brincadeira de casinha: estímulo aos alunos na idade da representação. Foto: Masao Goto Filho
Brincadeira de casinha: estímulo aos alunos
na idade da representação.
Foto: Masao Goto Filho

A obra de Piaget leva à conclusão de que o trabalho de educar crianças não se refere tanto à transmissão de conteúdos quanto a favorecer a atividade mental do aluno. Conhecer sua obra, portanto, pode ajudar o professor a tornar seu trabalho mais eficiente. Algumas escolas planejam as suas atividades de acordo com os estágios do desenvolvimento cognitivo. Nas classes de Educação Infantil com crianças entre 2 e 3 anos, por exemplo, não é difícil perceber que elas estão em plena descoberta da representação. Começam a brincar de ser outra pessoa, com imitação das atividades vistas em casa e dos personagens das histórias. A escola fará bem em dar vazão a isso promovendo uma ampliação do repertório de referências. Mas é importante lembrar que os modelos teóricos são sempre parciais e que, no caso de Piaget em particular, não existem receitas para a sala de aula.

Biografia

Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 1896. Aos 10 anos publicou seu primeiro artigo científico, sobre um pardal albino. Desde cedo interessado em filosofia, religião e ciência, formou-se em biologia na universidade de Neuchâtel e, aos 23 anos, mudou-se para Zurique, onde começou a trabalhar com o estudo do raciocínio da criança sob a ótica da psicologia experimental. Em 1924, publicou o primeiro de mais de 50 livros, A Linguagem e o Pensamento na Criança. Antes do fim da década de 1930, já havia ocupado cargos importantes nas principais universidades suíças, além da diretoria do Instituto Jean-Jacques Rousseau, ao lado de seu mestre, Édouard Claparède (1873-1940). Foi também nesse período que acompanhou a infância dos três filhos, uma das grandes fontes do trabalho de observação do que chamou de "ajustamento progressivo do saber". Até o fim da vida, recebeu títulos honorários de algumas das principais universidades européias e norteamericanas. Morreu em 1980 em Genebra, Suíça.

Quer saber mais?

Atualidade de Jean Piaget, Emilia Ferreiro, 144 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444 (edição esgotada)
Biologia e Conhecimento, Jean Piaget, 423 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2246-5552, 59,50 reais
Epistemologia Genética, de Jean Piaget, 124 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677, 25,40 reais
Piaget – O Diálogo com a Criança e o Desenvolvimento do Raciocínio, Maria da Glória Seber, 248 págs., Ed. Scipione, tel. 0800-161-700, 49,90 reais
Por que Piaget?, Lauro de Oliveira Lima, 72 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2246-5552, 16,40 reais

Fonte: revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil

Platão, o primeiro pedagogo

O filósofo grego previu um sistema de ensino que mobilizava toda a sociedade para formar sábios e encontrar a virtude

Márcio Ferrari (Márcio Ferrari)

Foto: Massimo Listri/Corbis /Stock Photos
Foto: Massimo Listri/Corbis /Stock Photos

Na história das idéias, o grego Platão (427-347 a.C.) foi o primeiro pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão ética e política. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a formação do homem moral, vivendo em um Estado justo.

Platão foi o segundo da tríade dos grandes filósofos clássicos, sucedendo Sócrates (469-399 a.C.) e precedendo Aristóteles (384-322 a.C.), seu discípulo. Como Sócrates, Platão rejeitava a educação que se praticava na Grécia em sua época e que estava a cargo dos sofistas, incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos – sobretudo a oratória – aos jovens da elite, para torná-los aptos a ocupar as funções públicas. "Os sofistas afirmavam que podiam defender igualmente teses contrárias, dependendo dos interesses em jogo", diz Sérgio Augusto Sardi, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. "Platão, ao contrário, pensava em termos de uma busca continuada da virtude, da justiça e da verdade."

Para Platão, "toda virtude é conhecimento". Ao homem virtuoso, segundo ele, é dado conhecer o bem e o belo. A busca da virtude deve prosseguir pela vida inteira – portanto, a educação não pode se restringir aos anos de juventude. Educar é tão importante para uma ordem política baseada na justiça – como Platão preconizava – que deveria ser tarefa de toda a sociedade.

Biografia

Platão nasceu por volta de 427 a.C. em uma família aristocrática de Atenas. Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Contudo, a oligarquia e a democracia lhe desagradaram. Com a condenação de Sócrates à morte, Platão decidiu se afastar de Atenas e saiu em viagem pelo mundo. Numa de suas últimas paradas, esteve na Sicília, onde fez amizade com Dion, cunhado do rei de Siracusa, Dionísio I. De volta a Atenas, com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de educação e pesquisa filosófica e científica que rapidamente ganhou prestígio. Três décadas depois, ele foi convidado por Dion a viajar a Siracusa para educar seu sobrinho Dionísio II, que se tornara imperador. A missão foi frustrada por intrigas políticas que terminaram num golpe dado por Dion. Platão morreu por volta de 347 a.C. Já era um homem admirado em toda Atenas.

O ideal da escola pública

Baseado na idéia de que os cidadãos que têm o espírito cultivado fortalecem o Estado e que os melhores entre eles serão os governantes, o filósofo defendia que toda educação era de responsabilidade estatal – um princípio que só se difundiria no Ocidente muitos séculos depois. Igualmente avançada, quase visionária, era a defesa da mesma instrução para meninos e meninas e do acesso universal ao ensino.

Um império em decadência

Platão no centro de Escola de Atenas, afresco de Rafael no Vaticano: absorção pela Igreja. Foto: Alinari Archives/Corbis /Stock Photos
Platão no centro de Escola de Atenas, afresco
de Rafael no Vaticano: absorção pela Igreja.
Foto: Alinari Archives/Corbis /Stock Photos

Platão nasceu meses depois da morte de Péricles, o estadista mais identificado com a democracia de Atenas, e morreu dez anos antes da conquista do mundo grego por Felipe da Macedônia. Sua vida coincide em grande parte com a decadência do império ateniense. Platão construiu uma obra voltada para épocas anteriores. Foi por meio de seus escritos em forma de diálogos que as idéias de Sócrates puderam ser sistematizadas e divulgadas, já que ele não havia deixado nenhum texto escrito. Nos diálogos, usualmente, Sócrates e um pensador sofista debatem um assunto até uma conclusão. Uma vez que Platão não se coloca como personagem, restou a seus intérpretes póstumos distinguir as idéias de Sócrates das do próprio Platão. A obra platônica foi sistematizada no início da era cristã. Os títulos mais célebres são O Banquete e A República. O cristianismo na Idade Média se apropriou do pensamento platônico por se identificar, entre outras, com a idéia de que em todas as coisas há uma essência, que se encontra num plano supra-real.

Contudo, Platão era um opositor da democracia – há estudiosos que o consideram um dos primeiros idealizadores do totalitarismo. O filósofo via no sistema democrático que vigorava na Atenas de seu tempo uma estrutura que concedia poder a pessoas despreparadas para governar. Quando Sócrates, que considerava "o mais sábio e o mais justo dos homens", foi condenado à morte sob acusação de corromper a juventude, Platão convenceu-se, de uma vez por todas, de que a democracia precisava ser substituída.

Para ele, o poder deveria ser exercido por uma espécie de aristocracia, mas não constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária. Os governantes tinham de ser definidos pela sabedoria. Os reis deveriam ser filósofos e vice-versa. "Como pode uma sociedade ser salva, ou ser forte, se não tiver à frente seus homens mais sábios?", escreveu Platão.

Estudo permanente

A educação, segundo a concepção platônica, visava a testar as aptidões dos alunos para que apenas os mais inclinados ao conhecimento recebessem a formação completa para ser governantes. Essa era a finalidade do sistema educacional planejado pelo filósofo, que pregava a renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O processo deveria ser longo, porque Platão acreditava que o talento e o gênio só se revelam aos poucos.

O aprendizado como reminiscência

Mosaico de Pompéia recria a Academia de Platão: ambiente de aprendizado. Foto: Araldo de Luca/Corbis /Stock Photos
Mosaico de Pompéia recria a Academia de
Platão: ambiente de aprendizado.
Foto: Araldo de Luca/Corbis /Stock Photos

Platão defendia a idéia de que a alma precede o corpo e que, antes de encarnar, tem acesso ao conhecimento. Dessa forma, todo aprendizado não passaria de um esforço de reminiscência – um dos princípios centrais do pensamento do filósofo. Com base nessa teoria, que não encontra eco na ciência contemporânea, Platão defendia uma idéia que, paradoxalmente, sustenta grande parte da pedagogia atual: não é possível ou desejável transmitir conhecimentos aos alunos, mas, antes, levá-los a procurar respostas, eles mesmos, a suas inquietações. Por isso, o filósofo rejeitava métodos de ensino autoritários. Ele acreditava que se deveria deixar os estudantes, sobretudo as crianças, à vontade para que pudessem se desenvolver livremente. Nesse ponto, a pedagogia de Platão se aproxima de sua filosofia, em que a busca da verdade é mais importante do que dogmas incontestáveis. O processo dialético platônico – pelo qual, ao longo do debate de idéias, depuram-se o pensamento e os dilemas morais – também se relaciona com a procura de respostas durante o aprendizado. "Platão é do mais alto interesse para todos que compreendem a educação como uma exigência de que cada um, professor ou aluno, pense sobre o próprio pensar", diz o professor Sardi.

A formação dos cidadãos começaria antes mesmo do nascimento, pelo planejamento eugênico da procriação. As crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas para o campo, uma vez que Platão considerava corruptora a influência dos mais velhos. Até os 10 anos, a educação seria predominantemente física e constituída de brincadeiras e esporte. A idéia era criar uma reserva de saúde para toda a vida. Em seguida, começaria a etapa da educação musical (abrangendo música e poesia), para se aprender harmonia e ritmo, saberes que criariam uma propensão à justiça, e para dar forma sincopada e atrativa a conteúdos de Matemática, História e Ciência. Depois dos 16 anos, à música se somariam os exercícios físicos, com o objetivo de equilibrar força muscular e aprimoramento do espírito.

Aos 20 anos, os jovens seriam submetidos a um teste para saber que carreira deveriam abraçar. Os aprovados receberiam, então, mais dez anos de instrução e treinamento para o corpo, a mente e o caráter. No teste que se seguiria, os reprovados se encaminhariam para a carreira militar e os aprovados para a filosofia – neste caso, os objetivos dos estudos seriam pensar com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos, terminaria a preparação dos reis-filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade, testando os conhecimentos entre os homens comuns e trabalhando para se sustentar. Somente os que fossem bem-sucedidos se tornariam governantes ou "guardiães do Estado".

Para pensar

Platão acreditava que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos, a ganância e a violência. O acesso aos valores da civilização, portanto, funcionaria como antídoto para todo o mal cometido pelos seres humanos contra seus semelhantes. Hoje poucos concordam com isso; a causa principal foram as atrocidades cometidas pelos regimes totalitários do século 20, que prosperaram até em países cultos e desenvolvidos, como a Alemanha. Por outro lado, não há educação consistente sem valores éticos. Você já refletiu sobre essas questões? Até que ponto considera a educação um instrumento para a formação de homens sábios e virtuosos?

Quer saber mais?

A Educação do Homem Segundo Platão, Evilázio F. Borges Teixeira, 144 págs., Ed. Paulus, tel. (11) 5087-3700, 23,50 reais
A República, Platão, 288 págs., Ed. Rideel, tel. (11) 2238-5100, 29,90 reais
Paidéia - A Formação do Homem Grego, Werner Jaeger, 1413 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677, 92 reais

Fonte: revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil

Pensar a escola, uma aventura de 2500 anos

Tão antigo quanto a filosofia, o pensamento educacional se desdobra em várias correntes, mas suas raízes estão fincadas na Grécia antiga

Márcio Ferrari (Márcio Ferrari)

A Evolução do Pensamento Pedagógico. Ilustração: Milton Rodrigues Alves
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO
Clique para baixar o infográfico em PDF
Ilustração: Milton Rodrigues Alves

Por trás do trabalho de cada professor, em qualquer sala de aula do mundo, estão séculos de reflexões sobre o ofício de educar. Mesmo os profissionais de ensino que não conhecem a obra de Aristóteles (384-322 a.C.), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) ou Émile Durkheim (1858-1917) trabalham sob a influência desses pensadores, na forma como suas idéias foram incorporadas à prática pedagógica, à organização do sistema escolar, ao conteúdo dos livros didáticos e ao currículo docente.

Antes mesmo de existirem escolas, a educação já era assunto de pensadores. Um dos primeiros foi o grego Sócrates (469-399 a.C.), para quem os jovens deveriam ser ensinados a conhecer o mundo e a si mesmos. Para seu discípulo Platão (427-347 a.C.), o conhecimento só poderia ser alcançado num plano ideal e nem todos estariam preparados para esse esforço. Aristóteles, discípulo de Platão, inverteu as prioridades e defendeu o estudo das coisas reais como um meio de adquirir sabedoria e virtude. O sistema de ensino que ele preconizou era acessível a um número maior de pessoas.

Duas vertentes

O quadro de afiliações filosóficas que você encontra anexado à capa desta edição se baseia no princípio de que as duas tendências (a idealista, de Platão, e a realista, de Aristóteles) podem ser traçadas em toda a história da filosofia no Ocidente – esse é um critério possível, mas não absoluto. Mesmo quando dominada pelo cristianismo, durante a Idade Média, a educação experimentou as vertentes idealista e realista, uma seguida da outra, de acordo com os postulados de Santo Agostinho (354-430) e de Tomás de Aquino (1224/5-1274). No século 14, a Europa havia se voltado de novo para o saber clássico. O feudalismo cedeu lugar a Estados nacionais, e as universidades, embora fiéis à teologia, passaram a dar atenção também ao conhecimento científico. Começava o humanismo. Filósofos como o holandês Erasmo de Roterdã (1469-1536) valorizaram a capacidade do ser humano de moldar a si mesmo por meio da leitura e da liberdade de conhecer.

Praticamente ao mesmo tempo, o fundador do protestantismo, Martinho Lutero (1483-1546), criou as bases da educação pública e universal. Em nome do direito de todos de ler e interpretar a Bíblia por si mesmos, o monge alemão deixou um legado duradouros na história do ensino. A Igreja Católica reagiu com uma ofensiva dos jesuítas, cujo ensino se baseava em rígida disciplina intelectual e física.

No século 17, enquanto o absolutismo triunfava como forma de governo numa Europa que se subdividia em Estados cada vez menores, religião e razão tentavam conviver na cultura. O grande nome racionalista no campo pedagógico foi o do tcheco Comênio (1592-1670), que previu um ensino que respeitasse a capacidade e o interesse do aluno sem severidade.

O século terminou com o despontar do liberalismo, no pensamento do inglês John Locke (1632-1704), convicto de que as idéias nascem da experiência e não são inatas no ser humano. Os 100 anos seguintes ficaram marcados pela consagração dos direitos civis – liberdade, privacidade, propriedade e igualdade. Para os pensadores da época, a sociedade moderna seria aquela em que as luzes da razão se acenderiam em cada um para usufruir desse aprendizado individual.

Tanta fé na civilização e na adaptabilidade do ser humano irritou alguns filósofos, para quem a humanidade mais perdeu do que ganhou ao se afastar da natureza. Por isso, missão urgente era preservar as crianças da "influência corruptora" da sociedade. O nome-chave dessa escola é o suíço Rousseau, que reconstruiu a figura da criança como um ser em processo. Friedrich Froebel (1782-1852), herdeiro da tendência naturalista, projetou a educação dos menores de 8 anos, procurando cuidar deles sem desrespeitar sua evolução espontânea.

Com a Revolução Francesa, em 1789, a escola tornou-se a instituição que garantiria certa homogeneidade entre os cidadãos e daí, pelo mérito, a diferenciação de cada um. A educação se expandiu por toda a França. O auge da crença nesse consenso social se encontra no pensamento do sociólogo francês Durkheim, para quem a sociedade era a materialização de uma consciência coletiva.

Aceita a idéia de que a criança na escola está num processo de desenvolvimento a ser respeitado e estimulado, a garantia para que isso aconteça foi enfatizada pelos postulados da Escola Nova, que se desenvolveu no final do século 19. Um grande representante do método tradicional foi o educador alemão Johann Friedrich Herbart (1776-1841), com sua didática baseada na direção do professor e na disciplina interna do aluno.

A Escola Nova deu impulso ao desenvolvimento de práticas didático-pedagógicas ativas. Um de seus representantes é o norte-americano John Dewey (1859-1952), que pregou a democracia dentro da escola. O movimento escolanovista representou também uma adequação educacional ao crescimento urbano e industrial. Um de seus pilares foi a identificação dos métodos pedagógicos com a ciência. Inseriram-se na crença em uma "pedagogia científica" tanto Maria Montessori (1870-1952) como o belga Ovide Decroly (1871-1932). A médica e educadora italiana buscou os princípios de uma auto-educação motivada por materiais pedagógicos.

Construtivismo

Ainda que originária de outro meio, a obra do biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) de certa forma deu prosseguimento às investigações da Escola Nova sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças e dos adolescentes. Suas descobertas marcaram a pedagogia no século 20 mais do que o trabalho de qualquer outro pensador. Entre os seguidores do construtivismo, como ficou conhecida a doutrina de Piaget, está a argentina Emilia Ferreiro, muito influente no Brasil.

Paralelamente, em consonância com as idéias socialistas do alemão Karl Marx (1818-1883), vários pensadores de esquerda desenvolveram idéias especificamente pedagógicas, como o russo Anton Makarenko (1888-1939), que defendeu uma ligação maior entre produção e escola. O bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934) levantou a tese da gênese social do psiquismo, estruturada por meio de um sistema de signos. E o educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) alcançou largo reconhecimento internacional por um método centrado na necessidade de consciência social e na importância do "outro".

Em países da Europa Ocidental, o chamado Estado de bem-estar social assumiu uma função reguladora das desigualdades e assumiu mais do que nunca a missão de educar. Nesse contexto, uma importante linhagem de pensadores críticos questionou concepções arraigadas sobre o papel da escola, a organização do conhecimento e as noções de inteligência, entre outras. Fazem parte dessa geração intelectuais como os franceses Edgar Morin, Pierre Bordieu (1930-2002) e Michel Foucault (1926-1984) e o norte-americano Howard Gardner, que causou impacto no meio pedagógico no início dos anos 1980 ao defender a idéia das inteligências múltiplas.

Fonte: revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil

Assim não dá! Não exibir os desenhos das crianças na escola

Na tentativa de criar um ambiente familiar para a meninada, muitas escolas de Educação Infantil optam por enfeitar as paredes com personagens de desenho animado e cenas de contos de fadas. A iniciativa, por mais bem intencionada que seja, não dá às crianças a chance de interagir com o espaço e pode acabar reforçando estereótipos. A escola que faz uma decoração com imagens desse tipo acaba mostrando aos pequenos que não quer que eles marquem o ambiente em que trabalha com produções próprias.

Além disso, os personagens escolhidos nem sempre são familiares a todos. Muitos desenhos representam mais a visão que o adulto tem dos interesses infantis do que o universo em que a meninada vive.

Em vez de pendurar em murais e varais exclusivamente as produções dos adultos, é mais interessante usá-los como espaço de reversibilidade, capaz de abrigar diferentes produções dos pequenos ao longo do ano, de acordo com o plano de trabalho desenvolvido pelo professor.

Com isso, eles se veem naquele espaço, se identificam com o ambiente e podem perceber e comentar as semelhanças e diferenças entre seus trabalhos e os dos colegas.

Ao participar do local em que passam boa parte do dia, os alunos entendem que a escola se interessa pelo aprendizado e valoriza o esforço de cada um. É uma ótima maneira de dar aos pequenos um ambiente familiar, em que se sintam, de fato, acolhidos e prestigiados.

Fonte: revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil